Советский Союз (Sovetskij Soyuz)

Ramon Mendes
4 min readJul 29, 2014

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Nos últimos dias, além de jatos abatidos em Donetsk e bombas guiadas a laser a cair em Gaza, lá atrás, bem escondida em um paragrafo de rodapé nas paginas de esporte, havia uma intrínseca notícia de uma certa decisão anunciada por um certo país do Cáucaso. Essa notícia nada ortodoxa, apoiada por um certo judeu baixinho, deixou boa parte dos adeptos da Fórmula 1 estarrecidos, no mínimo, impressionados. A tal notícia era que, na temporada de 2016, o Grande Prêmio da Europa será disputada no Baku Street Circuit, na cidade homônima, que é também, capital do Azerbaijão.

Baku: de hospital de feridos soviéticos no Afeganistão a marco moderno do Cáucaso. (foto: Divulgação)

Azerbaijão. Muitos de nós, fãs de automobilismo nem devemos nos lembrar que o referido país existe quanto mais que seja um país europeu, ex-União Soviética e que faça fronteira com a Rússia e a Armênia. Provavelmente, a ultima vez que ele apareceu nos noticiários do mundo, foi em um longínquo ano de 1994, quando este país estava finalizando a fase mais massiva de seu conflito com os armênios na diminuta província de Nagorno-Karabakh. Porém, para quem é adepto dos campeonatos de Gran Turismo, o Azerbaijão não é um lugar tão desconhecido assim. Ano passado, na FIA GT Series, o circuito de rua da capital azeri fez parte do calendário da categoria. Porém, pelos rumores dos paddocks, o circuito de rua projetado por Hermann Tilke não será o mesmo circuito que será utilizado pela Fórmula 1, porem, fatos, não existem.

Baku Street Circuit: A FIA GT Championship e a Blancpain Sprint Series disputam etapas nesse circuito, mas talvez, não seja este circuito que hospede a Fórmula 1 na capital azeri. (Foto: Ten Tenths)

Muitos poderão pensar que a capital azeri seja algo similar a uma Grozny em épocas de Guerra da Chechênia ou alguma capital de alguma esquecida república soviética, porém, se engana quem o achar. A cidade é um marco da modernidade em meio ao Cáucaso, terra fértil para as ideias do judeu baixinho que comanda a categoria. Há muito dinheiro lá, vindo das mastodônticas reservas de petróleo, e é este dinheiro, que hoje, move a Fórmula 1. O lugar é propicio e irá acontecer.

Uma paisagem da União Sovietica para deleitar os olhos de você, leitor. (foto: Smit_Smith LJ)

Porem, se for visualizar a história da categoria em seu passado nem-tão-recente-assim, podemos achar uma certa iniciativa de Bernie Ecclestone no ano de 1983. A ideia era quebrar a Cortina de Ferro que havia caído no leste europeu no pós-guerra e levar um dos esportes símbolo do capitalismo ao regime símbolo do comunismo no mundo. A ideia era simples, um Grande Prêmio na União Soviética.

No inicio dos anos 80, a União Soviética passava pelo começo de mudanças e transições políticas. O duro governo de Leonid Brezhnev acabava. Foram seis anos de intervencionismo, uma mão dura e uma imagem pacifica da União Sovietica para com o Ocidente acabavam no fim do ano de 1982, com a morte do chefe de estado soviético. Dois dias depois Yuri Andropov assumia a cadeira de Secretário-Geral do Partido Comunista, dando inicio a seu curto governo. Naqueles anos, enquanto as transições aconteciam na política soviética, Bernie Ecclestone negociava com os burocratas soviéticos a vinda de seu certame para o país. Porem Ecclestone não podia ter pegado época pior, Andropov não era um grande adepto do ocidente quanto mais de seu certame automobilístico. Era a época que os nervos das duas potências estava a flor da pele, Ronald Reagan estava aos comandos dos EUA e o modo de governar de Reagan dava motivos para as ações anti-americanas de Andropov, que davam mais motivo para Reagan tomar ações anti-sovieticas, e no meio do fogo cruzado, estava a Fórmula 1 a negociar uma etapa de seu certame em Moscou.

Grande Prêmio da Hungria: A idéia de Ecclestone era para ser na União Soviética.

Enquanto se negociava com os burocratas soviéticos de cara fechada, Bernie Ecclestone fazia planos e criava expectativas em cima do Grande Prêmio Soviético, Bernie planejou tudo que podia para a etapa. Até que, no ano de 1982, Bernie Ecclestone fazia o anuncio, no calendário prévio da temporada de 1983 da Fórmula 1 estava marcado, Grande Prêmio da União Soviética, em um circuito de rua em Moscou. Seria a chance dos soviéticos demonstrarem o melhor do socialismo ao vivo, direto nas casas de milhares de cidadãos dos países ocidentais capitalistas, seria o momento propício para a propaganda soviética; Seria….

O Grande Prêmio parou na cara fechada e na lentidão dos burocratas soviéticos da época. Nada mais justo para essa situação, tendo em vista que para um soviético adquirir um carro, ele pagava e podia esperar cinco anos em uma lista de espera para receber seu Lada Laika novinho (Pronta-entrega? Isso é coisa de americano imperialista). No fim, Bernie Ecclestone ficou chupando o dedo, mas não desistiu de quebrar a Cortina de Ferro, coisa que demorou até 1986 para a Fórmula 1, mas isso, já é outra história…

Originally published at http://vidadepaddock.wordpress.com on July 29, 2014.

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Ramon Mendes
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Written by Ramon Mendes

Gaúcho; Safra de 1997; Jornalista e grande fã de gin

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